ANDE ANDRÉ, ANDE!
Caminho pelas ruas da cidade, atravesso asfaltos, terra de chão, desvio das enxurradas, dou de encontro com lugares nunca antes visitados. Preciso andar, a saúde clama o esforço. Conto as calorias perdidas e suspiro aliviado, cada gota de suor é um tempo a mais de vida. O coração pulsa mais forte, a circulação aumenta, diminui a pressão. Já não tenho problemas com o colesterol, todas as taxas vão se reduzindo enquanto caminho.
Tudo começou depois de um susto, alguns sintomas estranhos que me fizeram buscar ajuda médica. De muito tempo eu sei que cedo ou tarde teria que enfrentar o problema: Tenho diabetes, é hereditária e matou o meu pai. Não quero ter o mesmo fim, ainda que para isso precise fazer uma tortuosa dieta que irá me acompanhar para sempre. Adeus picanhas, cervejas e pudins. Bem vindos os legumes, verduras e frutas.
Quando fiz o primeiro exame, entrei na sala da médica já sabendo que o resultado não seria bom. Ela é uma senhora japonesa, da seriedade comum dos orientais, nenhum riso e poucas falas. Tentei fazer uma brincadeira, porém ela não deu atenção, os olhos rasgados atentos ao resultado do exame de sangue. De vez em quando murmurava palavras incompreensíveis, mas eu já sabia que iria revelar um grave problema: A taxa de glicose estava altíssima e era preciso baixá-la o quanto antes. O diabetes é uma doença silenciosa, alertou.
Confesso, não sou hipócrita, tenho medo de morrer, mais ainda de sofrer. Além da dieta, a doutora fez outra exigência: preciso andar todos os dias, ao menos cinco quilômetros. Dessa tarefa gostei. Andar é buscar caminhos que me levem a lugares de outrora e outros nunca antes visitados. O problema é o tempo, que não disponho de muito, só à noite, mas acontece que nesse horário eu gosto de escrever, ler livros, assistir futebol ou alguma série na TV, prazeres que não pretendo abrir mão.
Mas a saúde é mais importante, então resolvo andar durante o dia. Quando preciso sair para resolver algum problema, e isso ocorre com frequência, visto um par de tênis e vou à pé, às vezes percorro mais de sete quilômetros. Quando bate o desespero e a vontade de largar tudo, uma voz dentro do meu cérebro surge dando ordens: “Ande André, ande, que o tempo passa logo e você acaba se acostumando”.
Emagrecer é um dos bons resultados, estou me sentindo muito bem depois de perder alguns quilos, minha pele, antes ressecada e sem vida, agora é outra, vistosa e macia. Prossigo caminhando, atento aos movimentos das ruas, vou encontrando gente, lugares e tudo o mais que preciso de inspiração para compor meus textos. Não se assuste se der comigo caminhando por ai, abrindo um sorriso bobo no rosto. A natureza é arma de escritor e o sorriso não é loucura, mas o sinal que acabo de encontrar o tema para uma nova crônica; o vento quente que bate na minha cabeça e me faz enxergar que uma árvore possui sombra, que são diferentes, embora tentem se abraçar.