QUANDO VOCÊ NASCEU

André Luiz Alvez*

 Era 22 de fevereiro de 1.999. Eu já tinha 34 anos e aquela era a primeira vez que seria pai. Lembro da parede branca do hospital na qual eu fitava os olhos, do cheiro da sala, do meu jeito preocupado e ao mesmo tempo ansioso, um cigarro aceso a cada cinco minutos, caminhando preocupado na ante-sala da cirurgia, um Chaplin perdido, sem saber o que fazer.

De repente o médico apareceu com a criança enrolada numa toalha, os olhos fechados, envolta numa paz profunda, como se ainda estivesse no ventre materno. Recordo como se fosse hoje as mãos enrugadas, o rosto parecido ao meu, que dormia enquanto a emoção tomava conta de mim e então entendi perfeitamente o significado da palavra amor. As primeiras palavras que lhe falei, um tanto sem jeito, com carinho: “oi minha filha, papai te ama” enquanto roçava com uma mão os cabelos escorridos pela testa, iguais ao da sua avó Dalva, e com a outra mão tentava controlar a lágrima quente que insistia escapar pelos cantos dos meus olhos.

Bebê recém-nascida

No instante seguinte, você abriu os olhos pela primeira vez e a luz dos olhos seus e a luz dos olhos meus resolveram se encontrar, dando vida à canção. Depois fui até sua mãe; Graziela dormia e a beijei com doçura, agradecendo aquele presente divino, fruto do nosso amor, enquanto deixava num canto o botão de rosa murcho que amassei de aflição. E você foi crescendo na alegria contagiante que fazia desaparecer os tantos problemas financeiros que tínhamos então. Antes de dormir, cada um de um lado roçava os dedos nos seus cachos caídos na testa e numa inspiração de pai novato, criei aquela canção que você tanto gostava: “O papai inventou uma massinha que se chama Andreza” e uma luz indescritível iluminava o seu olhar. Lembro dos primeiros passos, tortos, desencontrados, que com cuidado a seguíamos caminhando atrás, com medo de você cair, mas feliz ao sentir a sua alegria pela descoberta, os cachos agora compridos voando com o vento e o riso contagiante se espalhando por toda casa.

primeiros passos

Tomava banho no meu colo, se divertia com a água do chuveiro caindo, e quando seus dentinhos nasceram só percebemos quando mordeu pra valer o meu queixo. E a emoção maior na primeira palavra que falou: Pai. E aos poucos foi se tornando essa menina querida que está sempre do nosso lado, conquistando seu espaço. A beleza agora é a da sua mãe e fico orgulhoso de fazer parte da sua vida. Desculpe se às vezes me atrapalho e invado a sua adolescência sem pedir permissão. É que adultos são apenas crianças que cresceram sem perceber. Nesses seus quinze anos tudo o que quero é agradecer a sua existência e dizer numa sinceridade incontida que vou te amar até o fim, que é pra nunca se esquecer que você é um pedaço de mim.

 **Crônica publicada hoje (20/02/2014) no jornal Correio do Estado.

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