Para o meu neto Tom

Pequeno Tom, ao tocar suas mãos, descubro em você o arco-íris do meu sonho.
Trago-te versos profundos, minha alma e todo o amor desse mundo.
Queria começar falando dos passarinhos, mas eles voaram, apressados, ao ouvirem as batidas do meu coração.
Você é o meu passarinho, eu sou seu ninho, moramos numa árvore.
Permita que o meu primeiro beijo chorado, desengonçado, emocionado, banhe o seu rosto rosado. É que ainda não me acostumei por completo com a novidade de ser avô. O tempo passa, envelhecemos, mas uma criança travessa insiste permanecer dentro da gente, aos beliscões, gritando um resto de juventude.
Tento acelerar o tempo, ver você correndo de mim pelos cantos da casa, gritando a felicidade de criança correndo de um velho.
Ah, eu nem sou tão velho assim.
Mais do que seu avô, quero ser seu amigo de todas as horas, para lhe dar abrigo quando você precisar.
Não se esqueça: eu sou aquele da ponta da mesa, o contador de histórias. Aliás, vou lhe contar a primeira: quando sua mãe nasceu, inventei uma música para cantar com ela, era algo sobre uma massinha que cresceu dentro da barriga da mamãe.
Ela adorava.
Fiz o mesmo com seu tio Bruno, e quando o vento sopra em meus ouvidos a brisa de antes, faz surgir a imagem deles criança, tal qual você é agora, e então sinto essa mesma felicidade de árvore.
Sim, meu amado neto, a árvore sente felicidade, porque aquele imenso tronco, repleto de galhos e com folhas nas pontas, é segura no chão por uma raiz, e a raiz, mais do que tudo, sente o esplendor do amor despertado ao tocar a semente nascida do colo da própria flor.
Sua avó Grazy beijará o seu rosto todos os dias e será também sua eterna companheira.
Por falar nisso, andei medindo o meu coração e descobri que nele não cabe tanto amor que pretendo lhe dar.
Ao se sentir solitário, corra e me abrace.
Quando suas mãos se abrirem, me apanhe como a um livro; amassando, marcando, riscando trechos da nossa história que agora começa e que jamais terá fim.
Ao se sentir sozinho, olhe pare o lado, eu estarei sempre por perto. Brinque com as rugas no meu rosto, faça nelas um carinho e eu, em desalinho, sentirei suas mãos como um toque de Deus.
Não trago na memória nenhum exemplo de avô; não os tive, morreram antes ou sequer existiram, então, talvez eu me transforme num avô desajeitado.
Perdoe minha falta de jeito e também os meus defeitos: não fale comigo quando estou comendo, lendo, muito menos quando eu estiver escrevendo. Não me acorde bruscamente, não fale mal do Botafogo, não diga que não gosta de ler.
Quando você começar a gatinhar, farei o mesmo, fingirei não sentir dor nos joelhos e vamos apostar uma corrida até a porta. Quem vencer beija o outro.
Se precisar de carinho, me abrace. Posso ser o seu brinquedo preferido, um urso de pelúcia que anda e fala, o pião girando tentado se esconder, ou o policial nas aventuras contra todos os bandidos.
Ainda não tenho pronta a nossa música, precisava antes tocar suas mãos, olhar os seus olhos, beijar sua face.
Ah, meu querido Tom, seu pai vai te ensinar a caminhar, a andar de bicicleta, jogar no computador; sua mãe apanhará suas mãos e lhe dará conselhos, afagará seus cabelos com carinho e algumas broncas às vezes, mas não se espante ao perceber que eles são apenas duas crianças.
A bola vai rolar e você irá atrás dela naquele riso de cortar o ar e eu também correrei, não por cuidado contigo, mas porque sou tão criança quanto você.
Se o tempo caminha sem repouso, a velhice nada mais é que uma eterna infância.
Agora dorme seu sono sereno, outro dia logo vem e o futuro nos espera.
Se um dia distante, me leve no pensamento, e então no céu haverá de surgir o lume de luzes num círculo cortando toda a terra, o arco-íris do meu sonho, formando a sua imagem, o menino que nasceu para nos trazer paz e amor.
No fecho de todas as tardes, me aguarde, depois me guarde, reserve um pedacinho seu para mim, para nós, para sempre.

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