O título dessa crônica tem a ver com a teoria do físico americano Jonh Wheller na qual afirma que os buracos negros não têm cabelo.
Mas não é disso que quero falar.
Semana passada, a crônica da Tereza Hilcar nos brindou com as atribulações que a escritora enfrenta com os cabelos.
Li o texto no deleite do contraponto: sofro do mesmo mal, mas pela ausência.
Eu tinha uma cabeleira enorme, tipo cachopa, que cuidava com carinho.
Num dia de muito calor, à beira de uma piscina, contei os passos, fechei os olhos e pulei.
Quando voltei à tona, os amigos riam e eu não sabia o porquê, até que um deles, apontando para a minha cabeça, exclamou: você está ficando careca! Fingi que não liguei, mas assim que se aquietaram, fui até o banheiro e constatei o estrago.
Em contato com a água, a cachopa abriu uma cratera bem ao meio e restou um vão claro que tentei ocultar.
Daquele dia em diante, eu já sabia que meus cabelos não resistiriam ao tempo.
Lutei com diversas armas, de bosta de galinha preta a xampu importado, tudo em vão.
Aos trinta anos já ostentava a falha nos cabelos, restando o estilo moicano às avessas, que me acompanha até hoje.
O mais estranho é que meu pai não era careca, nem meus irmãos.
A teoria do castigo às vezes passa pela minha cabeça; talvez seja carma, a paga de algum pecado terrível.
Costumo dizer que não sinto falta dos meus cabelos, mas minto, gostaria sim de ter cabelos, só pra poder cortá-los e mudar o visual, me transformar numa espécie de David Bowie pantaneiro, pintar de ruivo, loiro, o escambau, ou apenas para sentir o prazer de entrar numa barbearia e pedir: Jonas corte americano, por favor!
Hoje assumi a falha, mas não hesito comprar chapéus, que depois não uso, porque incomoda e me sinto ridículo.
Teve um momento que ameacei usar bandana, que estava na moda, Romário e o cara do Guns N´ Roses a estavam usando; comprei uma azul com detalhes dourados, coloquei na cabeça, me olhei no espelho e o sentimento de completa aniquilação tomou conta de mim: nunca me senti tão ordinariamente ridículo.
Certa vez, logo que a calvície surgiu, sofri um grande constrangimento num ônibus, quando passei pela catraca e segui em frente, distraído, até o cobrador me chamar: “ei careca, você se esqueceu de pegar o troco” e todo mundo olhou para mim. Senti-me uma espécie de gnomo.
Recentemente fiquei sabendo que os japoneses criaram um produto que faz os cabelos renascerem.
Estou no aguardo que a novidade chegue logo ao Brasil, mesmo que pulse a dúvida: se depois de tanto tempo irei me acostumar com a cabeleira.
Talvez finalmente eu chegue à conclusão que melhor mesmo é a calvície e de pronto tenha em mãos navalha e tesoura.
Se nem os buracos negros, que são os buracos negros, não os têm, porque eu, um simples humano, haveria de ter cabelos?
Certo está um amigo que sofre do mesmo mal e bate no peito ao afirmar: “se cabelo fosse bom, não nascia no sovaco”.
É isso, o resto é teoria.